27 abril 2008

Fusão de elementos

No tempo em que se filosofava a física, o mundo dividia-se em terra, água, ar e fogo. Era uma aproximação pouco rigorosa e que não proporcionou grandes avanços científicos. O modelo ficou, no entanto, gravado como uma forma simples de segmentar a percepção imediata.


O vento, ar, trouxe do deserto a poeira, terra. Esta foi capturada pelas nuvens, água, bloqueando a luz do sol, fogo. Por um momento tudo ficou suspenso e fundido, com a cidade, terra, e o mar, água, iluminados por uma cor de fogo.

Depois, estourou. A poeira desceu com a chuva, água, abrindo caminho ao sol que voltou a lançar o seu fogo livremente através do ar. As gotas trouxeram de novo a terra à terra. E a água, sempre vagabunda, parte dela correu para o mar e outra parte voltou para o ar, deixando manchas de lama, terra, nas roupas, ruas e carros.

25 abril 2008

Abril

Não gosto de efemérides. E hesitei muito antes de decidir pegar neste tema para o registo de hoje. Mas o 25 de Abril foi mais forte e, mais uma vez, o “Glosa Crua” não resistiu.

Diz o Presidente que os jovens ignoram o que foi esta revolução especial. É um pouco normal. Quem nunca viveu em guerra não dá grande importância ao armistício. O fundamental é que saibam como querem viver hoje e, não sendo manipulados, consigam rejeitar o que foi o “antes”.

Discutir agora os malefícios do verão quente de 75 já perdeu a validade. Na globalidade o 25 de Abril foi um processo quase exemplar e hoje merece a distância e a frieza que a história exige.

Virem os nosso caros políticos, ainda e sempre, aproveitar esta tribuna para pedir contas que só a eles colectivamente incumbem foi triste.

Esperança e fé na mudança, sempre! Mesmo ingénua.

“Grandola, vila morena.... "

22 abril 2008

Fulanismo agudo

Se dúvidas houvesse sobre o estado e a evolução catastrófica do PSD nos últimos anos, a última “Conversa de Marcelo” foi elucidativa. Cada vez que o PSD perde o poder, aparece um “camelo”, ou vários, para a travessia do deserto e, quando o cheiro do poder reaparece, lá saltam para a arena os “a sério”.

A análise de Marcelo Rebelo de Sousa resumia-se a enunciar uma lista de fulanistas, respectivas relações de força internas e pequenas tácticas: cavaquistas, barrosistas, santanistas, mendistas, menezistas e mais uma série de outros putativos ou reais líderes, do presente ou do passado, de influência de retaguarda ou de primeira linha.

Enfim... Quando uma organização concentra tanto as suas forças, durante tanto tempo, nestas guerrilhas internas, é certo que se enfraquece. E também é certo que a democracia portuguesa necessita desesperadamente de um PSD forte.

Uma última palavra para a eventual liderança de Manuela Ferreira Leite. MFL deixou da sua passagem pelo governo uma imagem de “rigor e determinação”, um pouco no mesmo registo do actual primeiro ministro. Ou seja, enquanto Menezes ou Santana, num estilo populista, captariam facilmente boa parte do eleitorado descontente com as políticas restritivas do governo actual, MFL nunca conseguirá esse postura e não pescará aí com tanta eficácia. Uma MFL “populista” auto-destroi a sua imagem de “credibilidade”. Assim, ela perderá uma parte dos descontentes para, por exemplo, Paulo Portas e irá pescar nas mesmas águas de José Sócrates. Como ficará o balanço final ?

O eleitorado flutuante que sabe e acredita que são mesmo necessárias reformas “impoulares” a quem dará crédito? Ao PS com o seu registo conhecido ou ao projecto alternativo de MFL à frente de uma legião de “funalistas” dominados, para já ? O registo do passado recente do PSD não o favorece.

E a coisa começa a ficar mais interessante!

20 abril 2008

Vermelho e verde

Vermelho é a cor que tenho no pescoço de ter estado sentado a ler num banquinho em frente ao mar na passada sexta feira. Recordo a quem não sabe que sexta feira é o “dia santo” cá do sítio. A temperatura e o Sol estavam de tal forma generosos que estive de camisola de manga curta. E, ingénuo e distraído, lá deixei o Sol dar-me o primeiro escaldão do ano.

Verde será a cor com que muitos ficarão aí em Portugal, de inveja, ao lerem o parágrafo acima, face ao “sol” que por aí tem andado....!

18 abril 2008

Hit the road – Go West!!! (5 e fim)

5. Oran
457 km depois de sair e após 6h47 minutos sem levantar o rabo do assento do automóvel, desligo o motor no parque de estacionamento do hotel em Oran. Conhecida por ser a cidade da folia, dos bares e do “rai”, da “boa vida”. Mas nada disso. O hotel está na periferia, junto ao aeroporto e dali já não mexo mais. Somente na manhã seguinte às 11h30 para novos 400 e tal km’s, somente um pouco mais moído.

Na saída uma imagem rápida dos novos complexos residenciais, feitos a todo o vapor. O objectivo é realizar um milhão até 2009 em todo o país. Parece que a velocidade actual não o vai permitir mas tenho a certeza de uma coisa. A velocidade de degradação não ficará muito longe da velocidade de construção, quiçá até um nada mais rápida.
Um apontamento final para um veículo de tracção animal atravessando a auto-estrada, que pelos vistos, quando abre é para todos.

15 abril 2008

Cromo será sempre cromo



Nem é uma palavra que eu use muito frequentemente mas, para esta figura, acho que lhe encaixa mesmo, mesmo, mesmo bem. Depois do “bola fora” contra Marcelo Rebelo de Sousa, do tempo do célebre governo de Santana Lopes e de outros mais ou menos caricatos momentos de refinada grandeza retórica, ele voltou a atacar.

A RTP não deve contratar directa ou indirectamente uma jornalista que seja “namorada” do primeiro ministro. E isto independentemente da competência e curriculum da pessoa em causa.

Desde logo há um efeito colateral curioso. Ao publicitar que o primeiro ministro tem uma relação com alguém do sexo feminino, destrói, ou pelo menos atenua fortemente, aquela história que corria sobre as tendências homossexuais do mesmo. Penso que o PS até agradece este prova indirecta da varonilidade do seu líder.

Depois, o fundo da questão, não tem mesmo ponta por onde se lhe pegue. Será que a todos os cônjugues, relações, amigos e por aí fora de membros de governo deve ser-lhe vedada a colaboração directa ou indirecta com empresas públicas? Não será possível ser selectivo e distinguir as situações de mérito das de favor?

Brincadeiras à parte, com uma oposição assim, bem que o governo se perde....!

Foto extraída do site do PSD

13 abril 2008

Hit the road! Go West!!! (4)

4. O Mar
O mar adivinha-se. Há qualquer coisa que diz que ali atrás está o mar. E não é cheiro nem ruído, é uma influência que molda o ritmo das coisas.

A zona de alta de Mostaganem é bonita e poderíamos estar ali para trás de Silves, naquele mediterrâneo tranquilo recuado da linha de água. Até mesmo os cemitérios estão discretamente inseridos nos olivais.
E, de repente, aí está ele, o mar as dunas e tudo. A partir daqui é auto-estrada a correr a costa até Oran, passando por uma singela referência ao meridiano pai de todos os outros. Bom, há quem diga que não é bem assim. O meridiano pai, pai, era o de Alexandria que até marcou a divisão entre a Europa e a Ásia. Este foi escolhido posteriormente quando a civilização veio para Oeste e os Ingleses, espertos, lá puserem um Greenwich no sítio.

11 abril 2008

Confesso que vivi

Gosto de títulos. Não dos académicos que são usados e abusados por quem os acha carimbo indelével e intocável de distinção.

Gosto dos títulos das obras e dos de textos em particular. Mesmo de uma obra com um eloquente título em branco. Um título é um exercício complicado entre um resumo, uma antítese e, muitas vezes, uma provocação. Quando coloco um título num texto, este já está feito, ou no papel, ou na minha cabeça. Depois, o afinar do texto exige também o afinar do título. Um afinar que tem que parar antes de chegar ao requentado ou ao esturricado. Por isso, eu apelo frequentemente ao adjectivo “cru” para os meus títulos, como... no título deste diário.

Há um título que eu gostaria que fosse meu e que, de tanto me passar à frente, sinto que me pertence um pouco: de Pablo Neruda, “Confesso que vivi”. Tem uma força que ultrapassa uma obra. É um título de vida ou de forma de vida. Para quem “confessa que viveu” nunca haverá hora para morrer e qualquer hora será boa. Está sempre pronto porque VIVEU e nunca estará pronto porque VIVE.

08 abril 2008

Hit the road! Go West!!! (3)

3. Chelif médio



Os rios tornam-se doces quando se aproximam do mar, salgado por sinal. Apesar de a estrada não melhorar em nada e algumas travessias serem piores do que uma ruína, os horizontes abrem. Renques de árvores cortam o vento e delimitam os terrenos, um pouco à imagem da Camargue da Provence francesa. Antes de Relizane, cometo uma infidelidade. Abandono a RN 4 para apanhar uma estrada secundária em direcção a Mostaganem, mais deserta e mais rápida. Atravessa uma longa extensão plana e em parte salgada. Um mundo à parte e, por qualquer motivo inexplicável, com uma concentração de barracas de venda de carneiros. Estão pendurados numas construções assaz precárias, bem embrulhados, só com a cauda de fora e não depilada. Alguns clientes param e lá trazem o embrulho ao colo para o carro.


E a estrada sobe para atacar a ultima elevação antes do mar...

05 abril 2008

Esmeralda

Não acompanhei este assunto. Limitei-me a ouvir este nome próprio ser evocado de vez em quando, associado a uma confusão entre pais afectivos e biológicos, com tribunais embrulhados no meio.

Um destes dias calhou-me ver na televisão uma reportagem em directo, com amplo destaque, sobre uma sessão em que o pai afectivo levava a criança para uma “visita” ao pai biológico, visita essa que teria lugar numa sala de tribunal. De novo não atentei nos pormenores, apenas soube posteriormente que a criança não aceitou ver o pai biológico.

Há algo que me revolta profundamente. O que estava em causa não era a saída de um participante de um “big brother”, nem uma escapada discreta pela porta das traseiras de uma estrela do mundo do espectáculo. O que estava em causa era uma criança, seguramente dilacerada numa disputa daquelas em que raramente há jogo limpo por parte de quem com ela priva. Um criança para quem “pai” rima com tribunal, aquele local de bandidos. E pode o “povo” ter muita curiosidade em ver o mais de perto possível, até adorariam seguramente ouvir num megafone na praça pública a difusão em directo da hipotética conversa, poderá a dita reportagem ter tido uma audiência enorme, mas....

Já chega o sofrimento inevitável da disputa e da ruptura do mundo afectivo da criança. Por demais será ainda a carga adicional de arrastar o assunto pelos tribunais, por falta de qualquer coisa que deveria existir. Em cima de isso tudo, colocar ainda os focos mediáticos e realizar uma frenética caça à imagem, no bom estilo “paparazzi”, é vergonhoso. Haja decoro e respeito por quem é frágil e indefeso!

04 abril 2008

Hit the road! Go West!!! (2)

2. Chelif alto
O Chelif não parece um grande rio mas a sua bacia é imponente, um grande vale plano com aspecto bastante fértil. Numa primeira fase sente-se o peso das montanhas circundantes ainda próximas. Vários projectos hidráulicos em curso prevêem armazenar a água dos afluentes, embora alguns deles pareçam apenas farrapos de água suja. As terras não são muito bonitas e os nomes também não ajudam nada...


(E a história continuarará..)

03 abril 2008

Hit the road! Go West!!! (1)

1. Mitidja e Montanhas

A convocatória chegou em cima hora. Reunião em Oran dentro de dois dias e os voos já estavam cheios. Não há hesitação: vou pela estrada. São 400 e tal km’s que, segundo os optimistas, se fazem em 5h30! Não será bem a mesma coisa do que famosa route 66 de Chicago a LA, mas a N4 também vai para oeste e descobrir pela estrada tem sempre o seu charme.
Arranco às 12h30 depois de um almoço rápido. Uma hora para contornar Argel e atravessar a plana Mitidja, para já sempre em auto-estrada. Junto à costa existe uma linha de colinas, bastante cavadas e, entre essas colinas e a cordilheira de montanhas uma planície muito fértil e plana como uma folha de papel. Um autocarro de fabrico chinês, novinho, verdinho está atravessado no separador central. Já é o segundo caso que vejo em três dias. Deve haver ali um problema de travões ou direcção, uma vez que eles despistam-se assim sem mais na auto-estrada e sem grandes estragos. A máquina fotográfica não estava pronta.
Acaba a auto-estrada e penetra-se numa linha de montanhas, muito parecida com a serra algarvia. Algumas gargantas bem protegidas pelas forças de segurança, terão tido grandes histórias na fase quente dos anos 90. A paisagem mais frequente é no entanto a da foto 3 (tirada no regresso).

Lentamente vai abrindo e as montanhas afastam-se para dar lugar a nova transição de colinas. No entanto, nem tudo se afasta, há bastantes coisas ainda perto.









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Entrando na bacia do rio Chelif . (continua...)

01 abril 2008

Não gosto deste!

Este aqui da fotografia (extraída do Times online) é o espanhol Fernando Alonso, bicampeão do mundo de Formula 1. E eu não gosto dele. No ano passado foi batido, demasiadas vezes para o seu gosto, pelo seu colega de equipa estreante e não o conseguiu digerir com um mínimo de elegância ou dignidade.

Até dizem que foi ele quem ajudou a aparecerem as provas para a condenação final da Mclaren, amuado por não ter recebido o estatuto de primeiro piloto com prioridades face ao seu colega de equipa. Sem espaço na Mclaren, saiu para a Renault onde era muito querido por aí ter sido campeão em 2005 e 2006.

Bom. As duas primeiras corridas não correram bem. A Renault não está ao nível dos melhores. Ainda faltam muitas corridas e um bom piloto é, tem que ser, um bom desenvolvedor de carros, veja-se o caso de Schumachaer. Mas, o que disse este menino à imprensa do seu país? Que com a Renault “não ia lá”, que o seu lugar é no melhor automóvel da actualidade, que é o Ferrari, que ele até tem uma opção para sair da Renault no final da época e o F. Massa da Ferrari nem tem sido nada feliz nestas duas primeiras corridas! Ou seja, o menino condena já a sua equipa, diz para onde quer ir e até já nomeia quem vai ter que saltar para lhe dar o lugar! Não tem mesmo nível!!!

Porra! Deveria era a Renault deixar de lhe pagar o vencimento por arruinar o moral da equipa, a Ferrari fazer-lhe um manguito e ele ir correr para os karts!

E garanto que não é por ele ser espanhol. O Carlos Sainz, da mesma nacionalidade era, e é, um senhor de humildade e de ponderação.