30 agosto 2008

Voar às cegas



Amanhã, apanharei um voo da Spanair de Barcelona para Argel. Nada de muito especial porque desde o dia 20 de Agosto até hoje já milhares de pessoas terão voado com eles.

Não se conhecem ainda as razões do acidente de Barajas, mas pequenas coisas fazem pensar que nem tudo estaria 100% no ponto como é exigido. Uma tentativa de descolagem foi abortada por uma sonda indicar temperatura excessiva. A solução dos mecânicos foi … desligar a sonda: matar o mensageiro. Um dos travões aerodinâmicos estava há uns dias desligado por avaria. Parece que o segundo seria suficiente, desde que, obviamente, não avariasse na altura em que fosse preciso travar. E, se é verdade que o problema não foi travar mas sim falta de força para levantar, isto é sinónimo de “simplicidade excessiva”.

A única companhia que “boicotei” até hoje foi a Regional Airlines de Marrocos por uma série de indícios de displicência na manutenção e operação dos aparelhos. Sabe-se há bastante tempo que as companhias de países pouco “controlados” e especialmente as privadas mais sujeitas a pressão de resultados são potencialmente muito perigosas. Agora que uma Spanair espanhola, filial da escandinava SAS, simplifique assim surpreende e preocupa.

A maior aventura que já tive foi numa pública … espanhola. Um 747 velhinho da Ibéria em que eu vinha de Buenos Aires para Madrid, com escala em Las Palmas. abortou a descolagem e o comandante disse abertamente: “Senhores passageiros, estamos com um problema no sistema hidráulico e não dispomos de toda a potência dos motores. Iremos descarregar uma parte de carga e tentaremos de novo”. Segui pela janela a descarga dos contentores para avaliar o valor total da redução de peso e palpitar se a minha bagagem ficava ou ia. Voltámos à pista e no meio de um forte cheiro a combustível mal queimado ele lá foi ganhando ou velocidade ou altura; nunca as duas coisas em simultâneo. Descansei quando o vi nos 2000 metros.

Apesar de tudo, estatisticamente falando, é menos perigoso do que a estrada. A chatice é que não temos a mínima ideia de quão perto andamos do perigo.

E nada disto justifica que a TSF hoje tenha feito destaque e folhetim com um avião que está com problemas para trazer uns portugueses do México para cá…!
Cheira-me é que com estas coisas e os petróleos por aí acima, os voos baratos vão ficar um pouco menos baratos. O planeta agradece porque virem uns ingleses a Espanha de avião apenas para comprarem bebidas alcoólicas carece de racionalidade.

18 agosto 2008

Ó da guarda!!!

Mais um morto em Loures em confusões em que a maioria da população não se reconhece. Mais polícia? Um polícia em cada esquina? Acho que não. Acho que a omnipresença das forças de segurança pode dar um aumento de segurança percepcionada ao “comum dos inocentes”, mas não é a vista de um “sinaleiro” que trava os marginais, até eventualmente, os espicaça.

E depois, quando não houver mais polícias para todas as esquinas? Trazemos o exército para a rua como fez o Sr. Berlusconi recentemente em Itália? Sentir-nos-emos mais seguros assim?

E depois? Fazemos como no Texas em que os professores serão autorizados a levar as armas para a escola? (estou a tentar imaginar a evolução do caso do Carolina Michaelis e outros idênticos com gente armada…).

Não. Definitivamente a guarda é outra e, desculpem a heresia, um bocadinho de “social” a menos. A ociosidade é mãe de todos os vícios e se todo aquele pessoal tivesse que se levantar cedo para “vergar a mola” e chegasse ao final do dia cansadito, talvez se dispensasse a guarda…

09 agosto 2008

Jogos nos Jogos

Ontem, dia da abertura dos jogos li um artigo sobre o processo de selecção e preparação dos atletas chineses que mais parece um decalque do modelo soviético de há umas décadas atrás.

O utilizar dos Jogos Olímpicos como montra de regime evoca-me Berlim de 1936.

Se é improvável que a China venha a invadir militarmente Taiwan ou outro vizinho como o fez a Alemanha há 50 anos atrás, já não estou tão seguro sobre o resultado da comparação com a União Soviética. Se hoje a China cresce de forma impressionante e faz questão de o afirmar ao mundo, tenho muitas dúvidas de que um regime assim tão centralizado seja sustentável.

No mundo que eu penso que é o mundo vencedor haverá um momento em que a iniciativa individual, a liberdade de expressão e a criatividade fatalmente vencerão a organização marcial. Eu acredito que o humano inquieto e algo insubmisso a prazo se superioriza ao sistema completamente regulador.

04 agosto 2008

Questão de mercado ?

Sobre a crise que se tem abatido sobre algumas universidades privadas, li recentemente tratar-se apenas de ver o mercado a funcionar, separando as boas das más, não havendo nada de dramático nisso. Eu acredito muito no mercado em certos contextos. Se um restaurante não me agradou, não volto lá, perdi uma boa refeição, e é tudo. Se um automóvel se revela abaixo das minhas expectativas, não volto a comprar da mesma marca e aqui já não é tão pacífico porque não se troca de automóvel todas as semanas.

Muito diferente é o ensino superior. O ensino em geral e o superior em especial são dos principais agentes definidores do que seremos uma geração à frente e, para esta escala de tempo e importância, o mercado simples não regulado não funciona.

Dos investidores que desenvolveram um projecto mau que não sobrevive não tenho pena, até porque a história de muitos desses “investimentos” é tudo menos clara, poupando outros adjectivos que me poderiam fazer correr o risco de acusação por difamação. O outro lado da questão é o dos “clientes” e o refazer um curso não é o mesmo que trocar de restaurante.

Que farão hoje os milhares de jovens que investiram tempo, dinheiro e, sobretudo, “entusiasmo” em cursos desses projectos “maus”, que o mercado de trabalho agora rejeita? O problema é exclusivamente deles e da sua opção pouco esclarecida?

Um exemplo concreto: Portugal poderia ser hoje um destino de “turismo de saúde” onde gente com carteira recheada se viesse tratar na serenidade do país e na tranquilidade do clima. Em vez disso temos carência de médicos para o serviço nacional de saúde. Não tenho nada contra a concorrência internacional no “mercado de trabalho” e a vinda de médicos espanhóis, desde que falem português e haja reciprocidade. Somente acho vergonhoso isso acontecer ao mesmo tempo que milhares de vocações médicas não tiveram acesso à profissão porque o Estado andou distraído e/ou uma corporação controlou com sucesso o seu “mercado”. Vergonha é a palavra certa ou se preferirem em idioma mais “in”: “Shame on you!”