02 janeiro 2014

Eu e a música tradicional portuguesa - Da teoria à prática

Fruto de um conjunto de circunstâncias, eu e um grupo de amigos assumimos a direcção de um grupo folclórico nos anos 80 – “A Rusga de Arcozelo”. O grupo tinha já na sua carta de intenções que folclore era mais cultura do que espectáculo, que não se devia limitar às danças e cantares, nem estes se restringirem aos palcos.

Do ponto de vista musical deveria obviamente procurar o rigor e a riqueza que, de uma forma geral, são procurados para os trajes (embora por vezes mais para os femininos). Na altura em que assumimos o grupo, a tocata compunha-se de um acordeão (executante remunerado) e dois ou três instrumentos de corda, apenas a fazerem acompanhamento. Uma das vantagens do dito cujo é que, para o bem e para o mal, ele pode assumir sozinho a festa e isto é importante quando não está em causa uma ou duas actuações, mas sim várias dezenas por ano.

Não havia executantes em quantidade e muito menos com a qualidade necessária para interpretar a melodia em cordas, permitindo assim dispensar o dito cujo de um dia para o outro. Não existiam muitas escolas de música e os poucos que aprendiam (principalmente piano… teclas…) não estavam minimamente motivados para um projecto desta natureza.

Foi procurada e nomeada uma pessoa para assumir a responsabilidade da tocata, função tantas vezes órfã; foi encontrada e preparada uma pessoa que lá passou as melodias para as cordas de um bandolim e foram formadas outras, que sem formação ou apetência musical significativas, aprenderam o estado de espírito necessário para acompanhar a função. Eu fiz parte deste último grupo.

Iniciou-se uma fase transitória em que o acordeão aprendeu a respeitar e a dar o espaço aos demais, recuando em todas as fases em que não era indispensável. Quem cantava reaprendeu a fazê-lo por sua iniciativa, deixando de ser em cópia do fole e, quando se entendeu que estava pronto, pronto ficou, e sem acordeão.

Não estávamos ao nível técnico dos grupos bem preparados, da “música tradicional em segunda mão”, mas o objectivo não era esse. O objectivo principal era respeitar a origem e, curiosamente ou não, confirmar que o resultado final além de mais correcto era mais rico e mais agradável de ouvir.

E um exemplo simples do resultado final está aqui.

Continuação do anterior "A culpa"

E acabou...!

Sem comentários: