03 julho 2014

O preço do grátis

No texto anterior eu escrevi que a nova geração não está habituada a pagar pela música que ouve e não é só com a música. E a verdade é que estamos extraordinariamente habituados a que nos ofereçam coisas grátis, sobretudo no mundo da internet e derivados. Na realidade, como não há almoços grátis, paga-se sempre de uma forma ou doutra. Muitas vezes a remuneração é via simples publicidade e aí é mais ou menos claro.

Quando me pus a hipótese de comprar um tablet analisei a oferta do kindle da Amazon e descobri que, face a outras ofertas mais “caras”, tinha a particularidade de com muita facilidade estar a fazer sugestões de compra. Lançaram agora um telemóvel que parece ter um objectivo principal diferente do telefonar. Apontamos as suas camaras a qualquer coisa, ele identifica a coisa e facilmente nos propõe o preço e o prazo de entrega para a Amazon a colocar no destino que quisermos. As montras deixarão de servir para vender os produtos da loja, mas sim para explicar à Amazon o que lhe queremos comprar…

Mais uma vez, nada disto está muito mal quando as regras são claras. O problema que me preocupa é até que ponto a recolha e exploração de informação está a formatar a sociedade segundo interesses que não controlamos. Li recentemente que o gigante do passado foi a General Electric quando a chave da economia era a energia. Hoje é a Google porque a chave é a informação. Para lá do aspecto filosófico da comparação da energia com a informação como geradores de riqueza, é um facto de as googles, amazons e facebooks são autênticos aspiradores de informação (e já sem falar na espionagem industrial ou militar noutra órbita…). Por vezes encontro sugestões de amigos no Facebook sem nenhuma relação com a minha actividade lá. Ou seja, ele anda a escarafunchar no meu PC para me propor “amigos”. E eu autorizei isso? Quando se põe lá o clique no “aceito as condições”… sabemos até que ponto vamos ser aspirados e a nossa actividade seguida e registada algures fora do nosso controle e conhecimento? Posso pagar para não ser monitorado assim? Se calhar não será “grátis” apagarem-me esses registos... Que dizer da experiencia feita no FB de condicionar as publicações em murais pessoais, para o negativo ou para o positivo, com o objectivo medir o efeito contagiante… !?? Já não é “Big Brother is watching you”, é “Big Brother is driving you!” e isso realmente vale muito dinheiro!

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