05 janeiro 2016

Alguém observa e…

De há uns tempos para cá, e sem que eu tenha feito conscientemente algo nesse sentido, cada vez que arranco no carro, uma aplicação no telemóvel tenta adivinhar para onde vou, calcula o caminho, estima o tempo da viagem e informa-me sobre as condições do trânsito.

Para isto ser possível, estarão a ser gravados algures os meus padrões de deslocação. Isto incomoda-me, por várias razões. Em primeiro lugar não me recordo de ter dado autorização expressa para isso em momento algum. Começou espontaneamente após uma atualização qualquer. Em segundo lugar, os meus padrões de deslocação não são necessariamente um segredo, mas são meus. Não que receie serem usados por ladrões para me assaltarem a casa quando estiver ausente ou aquelas histórias da aplicação “onde está o meu iphone” servir para revelar infidelidades conjugais…!

Incomoda-me “ser seguido” e essa informação ser registada. Se há sempre a alternativa de ignorar estas ajudas e sugestões, este ignorar tem os seus limites. Quando alguém sabe algo (muito) sobre nós, para lá do que a nossa consciência assume, tem uma capacidade de influência maior do que imaginamos.

Já sei que depois de consultar um produto numa loja virtual, é altamente provável receber publicidade dirigida noutras páginas, para me ajudar… Nesse caso, sorrio com ironia, ao identificar a relação causa-efeito. No entanto, há muito mais sugestões dirigidas (e que nos tentam dirigir) menos óbvias.

A minha qualidade de arbítrio depende de uma certa isenção e pluralidade da informação que me chega. Ficará comprometida quando, sem consciência disso, algo me observa … e, parte mais grave, me tenta dirigir! Esta brutal e não autorizada recolha de informação sobre onde passamos, onde almoçamos, o que lemos, etc é uma ferramenta de modulação da sociedade … não controlada.

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