19 julho 2016

Amin Maalouf

Descobri este escritor libanês por acaso há uns anos numa livraria de Argel, quando por lá vivia. Com ou sem acaso eram edições particulares e únicas: havia páginas fora do sítio e até algumas em branco. Os franceses reclamam-lhe parcialmente a nacionalidade, mas a tinta dele é do levante mediterrânico, o Mashrek, sem margem para dúvidas.

O título mais apelativo para os curiosos será provavelmente “As cruzadas vistas pelos árabes”, mas foi a viagem pela Pérsia antiga e recente da “Samarcanda” que me revelou o encanto da sua escrita.

É um escritor de viagens humanas na história. Os seus protagonistas atravessam e testemunham grandes acontecimentos da história, mas sempre com uma dimensão individual intelectual e emocional significativa. Assistimos ao desenrolar de choques culturais e religiosos, tanto à grande escala como no íntimo de cada um.

Pode ser no dobrar do século XV e início XVI, em “O Leão Africano”, onde um muçulmano vai de Granada a Roma, passando por Fez e Cairo; ou no século XVII, com “O Périplo de Baldassare”, do qual tive recentemente o prazer de virar a última página, onde um cristão do Oriente vai do Líbano a Génova, passando por Istambul, Izmir, Lisboa e Londres.

As religiões e as culturas cruzam-se, desafiam-se e dialogam. Não digo que isto seja especialmente necessário agora mais do que nunca, mas seguramente agora e sempre. Este nosso Mediterrâneo, entre o levante (Mashrek) e o poente (Magreb), pode estar a viver muitas desgraças, mas a pujança cultural do que nasceu nas suas margens não morre.

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