07 julho 2016

O depois da mentira


O relatório Chilcot, divulgado esta semana na Inglaterra (ou Grã-Bretanha ou Reino Unido...) veio comprovar aquilo de que já se suspeitava há muito tempo. Que a invasão do Iraque de 2003 foi uma birra, ou outra coisa, dispensável. Que não havia nenhuma ameaça séria naquele momento e que a via negocial não estava esgotada. Publicado em 2011, o livro “A Era da Mentira” de Mohamed Elbaradei, antigo Diretor da Agencia Internacional de Energia Atómica e Nobel da Paz em 2005, é também bastante elucidativo sobre esse embuste e outros assuntos contemporâneos da mesma temática.

Ficou também agora evidenciada a ausência de uma preparação séria para o “dia seguinte”. De recordar que o que se passa hoje no Iraque, nomeadamente as tensões sectárias que ajudaram à nascença do chamado estado islâmico são, em parte, ainda a consequência dessa falta de previsão.

A divulgação deste relatório, numa altura em que Donald Trump aparece como sério candidato à presidência dos EUA, deveria ser objeto de uma reflexão especial pelos eleitores americanos.

Ficamos à espera da publicação de algo análogo em França, se tal for possível, sobre o envolvimento desta no derrube de Khadafi. Enquanto o UK se deixou enganar ou foi enganado pelos EUA; na Líbia a França interesseiramente e falsamente foi atrás de outros, por acaso não europeus nem ocidentais.

É comum referir que o Iraque com Saddam e a Líbia com Khadafi estavam “melhor” do que ficaram depois das respetivas “libertações”. Isso é verdade, mas significa que essa parte do mundo só se controla e está estável debaixo de regimes ditatoriais e repressivos? Não deveria ser assim mas, pelo menos, poderíamos ter aprendido que a doença não se cura com envio de tropas e mísseis. Não aprenderam. Na Síria apenas só não estamos aí pelo apoio do Irão e da Russa ao regime, mas os danos já são irreversiveis.

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