18 julho 2016

Onde parará o comboio?


Por algumas horas questionamo-nos se a Turquia estaria a seguir um caminho “egípcio”, com os militares a travarem um poder islâmico democraticamente eleito. Erdogan tem a legitimidade democrática das urnas, mas não é um democrata. Uma vez disse em público, desconheço o que poderá acrescentar em privado, que a democracia é um comboio de onde se sai quando se chega ao destino e um poder que ataca jornalistas e juízes não é certamente democrático.

Independentemente das especulações sobre a real natureza e a origem da iniciativa do golpe, Erdogan chamou-lhe uma dádiva divina que permitirá limpar o exército. A suspensão imediata de 2745 juízes, mostra que a limpeza não se limita ao exército e coloca muitas dúvidas sobre a real razão desses afastamentos.

Mas há fraquezas de Erdogan que permanecem. A gestão da questão síria, com prioridade na oposição ao regime de Al Assad, consequente falta de eficácia no controlo da fronteira e a hostilidade contra os curdos, trouxe-lhe uma instabilidade para dentro de portas, que talvez pudesse ter sido evitada. A fraqueza maior pode estar ainda na forma como Erdogan está a gerir o pós-golpe, em força e com recorrentes mensagens islâmicas “eles têm os tanques, nós temos a fé”. Poderá dar-lhe impunidade formal e um reforço de popularidade junto dos seus eleitores fiéis. No entanto, duvido que reforce a base eleitoral do seu partido que, recordamos, “apenas” conseguiu 50% dos votos e em eleições repetidas, na “primeira volta” ficara pelos 41%.

Se o comboio conseguir circular e aguentar até às próximas eleições, parece-me provável que os turcos consigam limpar democraticamente este ditador. Até lá, irão sofrer.


Foto de prisioneiros extraída da CNN

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