04 julho 2017

Felicidade com a morte do mensageiro, ou a desgraça de 2 -3 não ser 5?


Podíamos discordar da visão e do discurso de Medina Carreira, podíamos não gostar do estilo, mas não podíamos duvidar de que ele acreditava no que no dizia, fundamentava o que apresentava e não foi parte beneficiada pelos desvarios governativos que temos sofrido, nem nunca o buscou.

Face aos números e razões por ele apresentados, os irresponsáveis respondiam com etiquetas, das quais a menos violenta seria talvez “pessimista”. Muitas vezes, à irresponsabilidade juntava-se a falta de educação. A avaliação de um estado de espírito tem algo de subjetivo, a falta de dinheiro para pagar as contas no final do mês, não. Quando isso acontece, é argumento pouco relevante o estado de espírito de quem o anuncia/ou.

Medina Carreira há largos anos que anunciava estarmos a ir contra a parede e era acusado de ser “mau agoirento” … e fomos contra a parede. Na manipulação e malabarismos com a realidade e a verdade de que os poderes tanto gostam e onde tanto investem (agora chama-se “spining”), receio que um dia ainda seja lançado um “alternative fact”, tipo: “a vinda troika foi culpa do Medina Carreira, foi ele quem deu a ideia”.

A pobreza material nem sempre é fatalidade do destino. Muitas vezes é principalmente consequência da pobreza de espírito. Independentemente da razão que assistia a Medina Carreira, encerrar (ou nem sequer abrir) o assunto com etiquetas grosseiras é de uma pobreza intelectual atroz. Inqualificável é o regozijo com que alguns comentam o desaparecimento do mensageiro pessimista. Na história do desgoverno onde vivemos e por onde temos vivido, o nome Medina Carreira, ficará associado a um dos poucos que teve a coragem de “chamar os bois pelos nomes” e de insistir que 2 – 3 dá -1 e não 5. Que alguém tenha aprendido algo com ele, são os meus votos, já que no global, ainda estamos longe de assumir a aritmética.


Foto André Kosters/LUSA

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