09 outubro 2017

O que é que falhou?


9/10/2017, A23, 8h da manhã. Já ficou para trás a zona calcinada do incêndio de Pedrogão, encostada à margem leste desta autoestrada. Por alturas de Ferreira do Zêzere o Sol levanta-se, mas não brilha. Está filtrado por uma neblina de fumo e mostra-se laranja.

Estamos quase a meio de outubro e ainda temos incêndios a travar o Sol. Sim, serão criminosos, uma boa parte, como sempre foram; sim o ano foi excecionalmente seco, como pode constatar quem pisa caminhos florestais; sim… mas estar-se-á mesmo a fazer “todo o possível”?

Uma coisa é certa. No que diz respeito a incêndios florestais e respetivas consequências, 2017 ficará para a história como um ano de recordes e já só pedimos que demore muito tempo a serem batidos, como também achávamos que em outubro a estatística estaria já fechada.

Sim, que os 64 mortos foram devidos a um conjunto de circunstâncias excecionais, mas … quando o mar está calmo, qualquer um sabe navegar; quando as coisas se complicam é que as organizações e as competências são postas à prova e se distingue o capaz do incapaz.

Será possível haver uma avaliação séria do que realmente não correu bem, sem se desatar na gritaria e nas etiquetas do pafioso para cima e chuchialista para baixo? Tudo o que de terrível aconteceu nas nossas matas em 2017 merecia mais respeito e, no mínimo, esclarecimento. Provavelmente não acontecerá, porque o esclarecimento pode trazer responsabilização, algo que não combina muito bem com quem tem o poder (e o dever) de esclarecer.

Outra coisa é certa. Enquanto a nossa floresta continuar a ser um potencial barril de pólvora que arde por fatalidade, ao contrário do que acontece noutros países de clima idêntico, dificilmente haverá confiança para por lá se lançarem projetos de investimento e ingénuas boas intenções são manifestamente insuficientes.

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